sábado, 19 de dezembro de 2009

Brinca, Chora


Brinca.
Brinca enquanto podes.
Enquanto não tens que trabalhar para comer.
Enquanto não tens que estudar para aprender.
Brinca enquanto podes.
Brinca.

Chora.
Chora enquanto podes.
Enquanto não tens que rir para disfarçar.
Enquanto não tens que fugir para gritar.
Chora enquanto podes.
Chora.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Miragem

...
É de um lugar chamado sonho que te escrevo...
É num momento chamado saudade que te espero...
É com espadas que te defendo.
É com flores que me protejo.
É aqui que os sentimentos são mais fartos e os pensamentos mais densos.
É aqui que tu habitas sem medos e eu tenho objetivos mais grossos.
É assim que sou a última carruagem do teu último comboio.
É assim que és o meu único mergulho no meu único mar.
É só aqui que me abraças e eu sinto infinitamente.
É só aqui que te beijo e tu te entregas perpétuamente.
É para ti este farrapo de miragem...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sol aos quadrados



As nuvens não se rendem.
Mantêm o sol como refém e
Ameaçam matar todas as ilusões
Com água doce mas abundante.
Tenho que acabar com isto!
Vou prender essas nuvens
Para que chova apenas dentro de mim.
Quero que essa chuva miudinha
Me dissolva a dor mas que
Me faça transbordar a alma...

domingo, 6 de dezembro de 2009

Como?

Como ave sem voar. Como dormir sem sonhar.
Como juiz sem réu ou estrelas sem céu.
Como relâmpago sem trovão. Como exército sem capitão.
Como discoteca sem música
onde se dança sem coração.

Como inverno sem frio. Como sobrinho sem tio.
Como missa sem padre ou padrinho sem comadre.
Como funeral sem defunto. Como porco sem presunto.
Como livro sem letras
onde as histórias não tem assunto.

Como lágrimas sem sal. Como dezembro sem Natal.
Como rio sem mar ou viver sem amar.
Como casamento sem anel. Como colmeia sem mel.
Como vindima sem uvas
onde o vinho tem fel.

Como Natal sem Jesus. Como Páscoa sem cruz.
Como galinha sem ovo ou aldeia sem povo.
Como fogueira sem brasa. Como pássaro sem asa.
Como país sem fronteira
onde o rico não tem casa.

Como peito sem coração. Como braço sem mão.
Como céu sem estrelas ou cemitério sem velas.
Como sol sem calor. Como jardim sem flor.
Como guerra sem armas
onde se ama sem amor.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Q.E. fraco


É cedo, muito cedo!
No rádio toca uma música que eu não posso ouvir.
Os olhos teimam em não abrir, mas vomitam lágrimas:
-higiene pessoal!

O corpo cola-se à cama e não se ergue,
mas luta contra as mazelas da alma:
-ginástica matinal!

-"Não se atrase!"-grita uma voz na rádio.
Olho para o despertador mas não consigo ver nada.
Sinto apenas um cheiro a desespero
pois sei que até os inúteis não se podem atrasar.

Tento levantar-me para a vida
mas o combustível emocional está a esgotar-se.
Fingo que tomo uma decisão
e enfrento a fase inicial da manhã,
com medo, angústia, insegurança,
e com um sorriso cínico na cara!

Degenerado


Sinto que consigo contar
todos os meus ossos.
Por enquanto, sim
pois estes estão a
desfazer-se lentamente...
Lenta e dolorosamente
sem que mais ninguém perceba,
estão a desfazer-se.
Assim como tudo o que ainda sobra de mim.
Sinto!